Eventos climáticos cada vez mais extremos, perigosos e destrutivos são consequências que o aquecimento global poderá ocasionar nos próximos anos. Esse cenário foi desenhado pela maioria dos participantes do 4º Encontro de Integração dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Distrito Federal, Eicob, cujo tema central foi “Mudanças climáticas e seus efeitos sobre o Distrito Federal”.
O evento ocorreu nesta terça-feira (5), no Centro de Práticas Sustentáveis, e contou com a participação dos membros dos três comitês de bacias do Distrito Federal: CBH Maranhão-DF, CBH Paranaíba-DF e CBH Preto-DF.
A abertura do evento contou com falas de representante da Adasa, Sema e do Ibram, o anfitrião do espaço (CPS). Também teve o momento de falas dos presidentes do CBHs Preto-DF e Paranaíba-DF e a Secretária Geral do CBH Maranhão-DF.
A presidente do CBH Paranaíba-DF, Alba Evangelista Ramos fez uma breve apresentação da situação hídrica no DF, trazendo um panorama de cada uma das três regiões de bacias. Ela destacou os riscos e problemas que uso e ocupação do solo de forma inadequada podem causar ao desconsiderar a dinâmica dos recursos hídricos.
No período da manhã, um ciclo de palestras com especialistas mostrou, sobre várias perspectivas, os riscos iminentes das mudanças climáticas no Brasil e especialmente no Distrito Federal.
Mudanças no clima e impactos no DF
As bases científicas da mudança do clima, risco climático, mitigação e adaptação foi o tema da palestra do pesquisador da Embrapa, Carlos Pacheco. Citando dados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ele destacou que o aumento da ocorrência de eventos extremos pode colocar milhões de pessoas em insegurança hídrica e alimentar, principalmente populações socialmente vulneráveis na África, Ásia e Américas Central e do Sul, e que dentro do contexto mundial, o Brasil figura entre o quarto e sexto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta.
“O aumento da taxa de emissão de gases está relacionado ao aumento da temperatura do planeta”, lembrou. Segundo ele, estudos indicam que mudanças em eventos extremos como ondas de calor, precipitações intensas, secas e ciclones tropicais estariam ligadas à influência humana. Todas essas alterações irão impactar diretamente a saúde humana, a produção de alimentos e a atividade econômica.
O consultor ambiental, André Souza também trouxe mais dados relacionados a situação climática no Distrito Federal, com uma síntese dos cenários possíveis para os próximos anos.
“Teremos menos disponibilidade de água para os reservatórios, redução da umidade relativa do ar, aumento da temperatura e radiação solar”, alerta.
Ele destacou sua participação no Projeto CITinova – Tecnologias Inovadoras para Cidades Sustentáveis, um projeto multilateral realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com parceria da Global Environment Facility, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, da Sema, e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, que propõe a implantação de uma governança climática e a busca por políticas públicas de enfrentamento a essas mudanças.
Drenagem urbana e mudanças climáticas
O processo de crescimento desordenado das cidades e a impermeabilização de boa parte do solo que daria vazão às águas das chuvas, tem resultado, cada vez mais, em eventos de alagamento e erosões do solo, segundo o professor do Departamento de engenhara civil e ambiental, da UnB, Sérgio Koide.
“Estamos urbanizando as bacias e a ocupação urbana reduz a infiltração”, lembrou. Ele defendeu medidas compensatórias de baixo impacto e soluções baseadas na natureza para minimizar as situações de risco geradas pela falta de planejamento das cidades. Entre a ações propostas, o aumento de áreas de infiltração e vazão. O professor reforçou a necessidade de atualização das curvas de chuva no Distrito Federal, levando em consideração as mudanças climáticas.
Cenários futuros do Saneamento Ambiental
A assessora de planejamento e modernização da Caesb, Luiza Carneiro Brasil, falou sobre a situação do saneamento no país e no Distrito Federal e os principais desafios futuros. Ela lembrou que a empresa hoje trabalha com diretrizes governamentais que perpassam governos o que permitem uma continuidade mais efetiva dos projetos. A empresa planeja aumentar e modernizar suas estações de tratamento de água e esgoto para os próximos anos. Segundo ela, os maiores desafios hoje do setor são a universalização do serviço e a redução do índice de perdas de água, que chegam a 36% no DF.
Educação Ambiental
O professor, membro e coordenador do GTEA do CBH Paranaíba-DF, Demetrios Christofidis falou sobre a importância da educação ambiental no debate sobre mudanças climáticas. Ele fez um breve relato do agravamento da emergência ambiental e climática dos últimos anos e a relevância de uma educação que proporcione conhecimento, cooperação, diálogo, participação de todos. Ao final das apresentações, foi aberto um momento de perguntas. O secretário do CBH Preto-DF, Cláudio Malinski destacou as dificuldades da região para a produção de alimentos. Segundo ele, a falta de água reduz muito a capacidade produtiva da bacia do Rio Preto, mas algumas ações coletivas, como a alocação compartilhada da água, têm buscado amenizar esses impactos.
Oficinas
Pensar os conflitos ambientais a partir de outras perspectivas foi a proposta da oficina da bióloga e doutora em desenvolvimento sustentável, Denise Agustinho. A partir da formação de dois grupos, com membros distintos dos comitês, foi possível simular situações de conflitos relacionados à água. Cada um assumiu um papel diferente e por meio das interações, puderam se relacionar com diferentes pontos de vista dos atores envolvidos. Ao fim das atividades, o presidente do CBH Preto-DF, Gilmar Batistella, a presidente do CBH Paranaíba-DF, Alba Evangelista Ramos e o ex-presidente e membro do CBH Maranhão-DF, Rodolfo Brito destacaram a importância do encontro e a necessidade de ações integradas dos comitês.